A importância do processo para o sucesso das organizações
Land e Jarman (1990), apresentaram um estudo fascinante. Para eles, existe um padrão de aprendizagem para tudo. Seja aprender a tocar violão, aprender a andar de bicicleta, aprender a dançar, liderar uma pequena, média ou grande empresa. O processo de obtenção de competência e o declínio é o mesmo. O modelo é ilustrado com um gráfico chamado ‘Curva S’. A ‘Curva S’, lembra uma onda elegante, a parte de baixo representa um vale, que vai se agigantando lentamente para cima até um pico, e começa a ondular-se novamente para baixo. Segundo esses autores, a ‘Çurva S’ explica que todo sistema cresce por meio da passagem por três fases de mudança: formação, maturação e o declínio.
O ponto mais baixo da curva corresponde à fase inicial da aprendizagem, em que o aprendiz tem que lidar com o caos inicial, a confusão e a frustração de um ambiente com o qual não está familiarizado – é a fase da tentativa e do erro. A curva sobe à proporção que começa a substituir o desconhecido pelo conhecido. A confiança se constrói à medida que o caos cede lugar a padrões discerníveis, os indicadores mostram que estamos no caminho certo, outras recompensas podem vir em forma de retroalimentação positiva. Os maiores motivadores costumam ser a emoção da própria aprendizagem, a sensação que estamos substituindo a frustração do caos, pelo fascínio de estarmos fazendo algo novo. O sistema se retroalimenta dessa energia.
Na fase seguinte, a curva inclina-se mais para cima, de maneira que a aprendizagem se acelera e a retroalimentação positiva chega mais depressa. É a fase de alto desempenho, que culmina em entusiasmo, com a sensação de ter feito tudo direito e de saber que pode fazer novamente. É o momento da maestria, de estar em fluxo. Perto do ponto mais alto da curva, a inclinação começa a estabilizar-se à medida que se aproximar do clímax do sucesso. O ritmo da aprendizagem se retarda e, muitas vezes, começa a inclinar-se para baixo. Estamos no ponto mais alto da curva. Este, geralmente, é bem proveitoso e publicamente reconhecido, o momento da recompensa, da sensação de grandeza, da vitória e de todas as aclamações que são possíveis e merecidas pelo trabalho árduo até aqui.
Porém, o ponto mais alto da curva também é o lugar em que ela começa a descer, em que a energia da onda se dissipa, o ritmo da aprendizagem fica mais lento, começa a estagnação, a fase da entropia, que é a perda de energia que se verifica depois do topo da curva da aprendizagem. Entropia é a segunda lei da termodinâmica que afirma que tudo se encaminha de forma inevitável para o caos e a desordem. A entropia é inevitável em todos os sistemas existentes, a não ser que o combatemos conscientemente, nos antecipando a ela, criando uma nova ordem, retroalimentando novamente o sistema. Na verdade, em toda a curva de aprendizagem, sempre vão ocorrer duas forças opostas: ordem e desordem – elas são conflitantes e opostas. Por um lado, há a ação inevitável à entropia, que é a desordem e a ação para o caos do sistema, por outro lado, podemos ver ordem em infinitos lugares.
Vemos ordem em toda parte. Temos o impulso em promover a ordem, precisamos da ordem para crescer. Porém, existe o oposto também: o impulso natural da desordem. A ordem vem de uma forma consciente, de uma execução cuidadosa. A desordem vem da entropia, quando perdemos o cuidado e a atenção naquilo que estamos fazendo, ela ataca de forma impiedosa. Seja uma entropia cultural, entropia organizacional, entropia física, entropia no corpo, entropia nas relações. Como se ataca a entropia? Com liderança, disciplina, planejamento, atenção e principalmente com execução cuidadosa.
Em algum ponto, antes que a curva comece a inclinar-se para baixo, devemos ficar atentos se não seria indicado iniciar uma nova busca de outra curva de aprendizagem. O ponto da curva em que a aprendizagem começa a diminuir seu ritmo foi identificado por Land, como “ponto de observação”. É o momento ideal para recuar, analisar, fazer um retrospecto, avaliar o progresso ao longo da curva da aprendizagem normal e, talvez, pensar em dar início a uma nova curva de aprendizado. Para John O’Neil, no livro, O paradoxo do Sucesso, a determinação do momento correto do “ponto de observação” raramente é precisa, mas, se prestar atenção, captará os sinais. Você pode sentir uma leve diminuição da motivação, da produtividade, do entusiasmo, da energia e do desempenho, como também, detectar um desejo por fugir. Nessa fase, destaca-se um ponto importante de ser percebido, as virtudes do sucesso atingido como a agilidade mental, confiança, atenção, dedicação, controle e coragem, já não são as mesmas que haviam antes em si. Por isso, localizar esse ponto de observação para recuar, a fim de melhor se preparar ou começar a preparação para novas curvas de aprendizado, é fundamental.
O ponto de observação configura-se como o mais delicado para todos nós que, em geral, resistimos em vê-lo. Recuar não é fácil, saltar antes para outra curva pode ser arriscado e perigoso. Ficar apegado a uma curva de sucesso cada vez mais fraca, pode ser ainda mais perigoso. Essa curva pode ser o que está dando sentido e significado para nossas vidas. Podemos achar que merecemos esse sucesso, abrir mão disso é verdadeiramente difícil. Por tudo isso, o ponto de observação é, primeiramente, um lugar de reflexão e de uma conversa franca, honesta e sincera com nós mesmos. Porém, se passar muito deste ponto e nada for feito, pode chegar ao Ponto de Não Retorno (PNR).
O “ponto de não retorno” é uma expressão usada em aviação, que mostra o ponto preciso, onde o combustível restante na aeronave não é suficiente para que o avião retorne ao aeroporto de partida. Caso surja uma urgência, que exija pousar o avião, o piloto precisa escolher outro aeroporto para pousar a aeronave, pois o avião não terá combustível suficiente para retornar ao aeroporto em que partiu. Se tentar voltar assim mesmo, o avião ficará na margem, não chegará no aeroporto.
O “ponto de não retorno” na vida da organização significa isso também, se chegamos nele, não podemos mais recuar. Significa que a organização já avançou muito, passou por fases importantes de crescimento e de complexidade, não dá mais para voltar como era antes, se tentarmos regredir, não teremos energia suficiente para manter o sistema rodando. O sistema vai entrar em colapso se tentarmos voltar, o avanço é a única opção. O olhar precisa ser apurado, com disciplina, planejamento, atenção e execução atenciosa.
Autor: Roberto Scola