Soldagem de reparo e manutenção x soldagem de fabricação de equipamentos – Entenda as diferenças
A soldagem é um processo de fabricação muito popular e largamente utilizado ao redor do mundo, tanto para a fabricação de equipamentos, estruturas e acessórios, como também, na sua recuperação, reparos em geral e manutenções.
Neste artigo vamos abordar sobre as diferenças reais existentes entre a soldagem de fabricação de equipamentos e demais itens, enquanto novos, e a soldagem de reparo e manutenção.
Aspectos essenciais do processo de soldagem
Por ser considerada um processo especial e por conta desta característica, a soldagem requer o desenvolvimento de procedimentos qualificados e de soldadores ou operadores de soldagem devidamente qualificados. Isto é, tais qualificações são suportadas por normas internacionais de construção e também de qualificação.
Porém, essas normais tais como AWS, ASME e normas EN ISO determinam ensaios rigorosos para avaliar a qualidade intrínseca de soldagens executadas, seguindo-se procedimentos prévios, instruções e boas práticas de engenharia. Assim sendo, é possível afirmar que um dos pilares que sustentam a qualidade da soldagem são os documentos produzidos pelos fabricantes que utilizam a solda como um processo de construção.
Ambiente adequado
O processo de soldagem voltado para construção ou fabricação, por meio de inúmeros recursos disponíveis em uma caldeiraria, é executado em um ambiente apropriado. Sendo assim, esse ambiente adequado se caracteriza por espaços abrigados do vento e de intempéries. Além, de bem iluminados, com acessos adequados a junta a ser soldada, boa qualidade de energia elétrica e disponibilidade de vários processos de soldagem diferentes.
A mesma situação por vezes não se repete na soldagem de reparo e manutenção, que pode necessitar ser feita em locais de pouco acesso, expostos ao vento, com pouco recursos de energia ou somente com a possibilidade do uso de um ou outro processo de soldagem.
Em adição, a soldagem de reparo e manutenção, na sua grande maioria é executada após um determinado tempo de equipamento em uso. Sendo assim, a possibilidade também de se encontrar equipamentos já oxidados é mais um risco, já que fará com que processos de preparação de superfície adicionais venham a ser requeridos antes da execução propriamente dita da soldagem.
Disponibilidade de Inspetores de solda e de END
Inegavelmente, observa-se também que não há disponibilidade imediata de contratação de Inspetores de soldagem, nem de inspetores de ensaios não destrutivos. Estes profissionais são fundamentais para a atividade de acompanhamento e avaliação de um reparo ou manutenção que tenha sido necessário como consequência de um acidente ou de uma quebra inesperada de equipamento.
Este fato, também colabora para que a soldagem de reparo e manutenção tenha um padrão de qualidade final inferior. Há por certo algumas exceções que tratam tais reparos com a mesma atenção que as juntas produzidas na construção.
Fatos e desafios da soldagem de reparo e manutenção
Há uma grande distância entre o ambiente propício para soldagem e demais itens soldados, com os usuários desses equipamentos e estruturas, tendo em vista que, não possuem tantos recursos para que a soldagem seja executada nos mesmos moldes que a solda original foi produzida.
É importante considerar também, que um equipamento projetado e construído com soldas de alta qualidade em seu nascimento, também requer a continuidade dessa mesma qualidade na execução dos reparos e manutenção. É, portanto, fundamental que usuários de equipamentos que venham a reparar com uso de soldagem saber fazer ou contratar profissionais que possuam conhecimento para fazê-lo com qualidade similar à da solda de construção. Torna-se então um desafio comum dos usuários de equipamentos soldados, o desenvolvimento de conhecimentos relacionados a esse processo para que o usuário saiba fazer a determinação das especificações técnicas compatíveis com a criticidade do reparo a ser executado.
Áreas eventualmente impróprias para soldagem de qualidade
A execução de uma soldagem de qualidade requer uma preparação adequada. Ademais, exige limpeza de oxidação, de tintas/vernizes e preparação da cavidade através de chanfros que tenham fácil acesso para que ocorra adequada fusão de materiais.
Não é raro se verificar que a soldagem de recuperação e manutenção, por vezes é feita sem esse detalhamento, já que o acesso às vezes é difícil, pouco iluminado e sujeito a umidade constante. Portanto, estes fatores irão colaborar com uma situação de soldagem diferente do ideal.
Importância da documentação de soldagem de reparo e manutenção
A ausência de documentação de soldagem é usual, tais como: RQPS, EPS e RQS referente a soldadores. Todavia, é fundamental desenvolver um sistema de elaboração constante de documentos que ofereçam suporte e instrução precisa para a execução de tais reparos de manutenção por solda.
Sistemática de solução
Inúmeras especificações de materiais já trazem a possibilidade de reparos de solda, como é o caso dos materiais ASTM A216 (WCB…), entre outros.
Sobretudo, a solução está ao alcance do profissional de soldagem, passando por qualificação de procedimento e de soldadores e interpretação das normas de construção, materiais e de qualificação de soldagem. Sendo assim, é possível formar um cenário robusto e inteligente para realização das atividades relacionadas a reparos de soldagem dentro dos mais variados sistemas de qualidade de soldagem.
Os procedimentos de soldagem e qualificação de soldadores são baseados por diversas normas no mercado brasileiro, sendo estes os mais conhecidos:
- ASME-IX – qualificação para profissionais e procedimentos voltados para reservatórios pressurizados, caldeiras, corpos de válvulas e todos que estão submetidos ao código ASME;
- ASTM A488 – qualificação de procedimentos de soldagem para materiais fundidos;
- AWS D1.1 – Structural Welding Code
Conclusões e recomendações
Foi possível identificar que é essencial abordar o tema Soldagem de Reparo e Manutenção com a mesma importância da soldagem de fabricação.
Nesse sentido, é recomendado que o processo se inicie pelo compartilhamento desse e de outros materiais de estudo, pois motivam a mudança de sistemáticas de reparo, por outras mais detalhadas e completas.
Os passos seguintes devem ser trilhados na busca de treinamento e nivelamento de conhecimentos sobre o assunto. Além da criação de novos procedimentos e instruções internas que sejam aderentes às necessidades e requisitos determinados por normas sobre o assunto e melhores práticas de engenharia.
Certamente essas ações são comprovadamente muito econômicas diante dos gastos e custos do não uso das soluções propostas acima. Em conclusão, procure sempre por profissionais experientes e qualificados.
Autor: Fernando Lescovar Neto